29.11.08

Normalidade absurda.

Prostrada no fundo das escadas, com as pernas abertas, a roupa rasgada, o rosto coberto mas de choro aberto, com um soluçar infernal, símbolo além da dor, uma demonstração de frustração.
Desci mais dois degraus, para espreitar melhor.
Começava a ser um cenário comum. A mulher jogada num canto, com o batom borrado a atravessar o rosto, lágrimas dramáticas de um rimel cuidado, roupa rasgada como se tivesse sido possuída por um vendaval, possivelmente com os mesmos hematomas de sempre nos braços, nas costas, nas coxas.
Tudo indicava que tinha sido violada.
No meio de tão dantesco quadro, no meio de tão confuso drama, era assim que via a mulher do meu irmão.
De repente começou-se a rir, um riso descontrolado, com laivos de loucura. Não. Não eram laivos, era loucura pura, mas sem raiva, era um riso desequilibrado, mas pejado de prazer. Limpou o sangue que tinha no lábio, levantou-se e piscou-me o olho.
Fiquei mais descansado. Pode parecer estranho, mas naquele momento senti a normalidade.
Desde que o meu irmão descobriu que não poderia ter filhos por falha da sua natureza, ganhou um vício pelo sexo violento, tal e qual um caso de violação caseira, entre marido e mulher. E julgo que isso a excita. Ele descarrega a sua raiva e o sentimento de culpa, para ela funciona como uma espécie de penitência e um deleite sexual.
No fundo são um casal feliz julgo eu.
Fui-me vestir e fazer tempo enquanto não me chamavam para jantar. Depois de dois meses nesta casa, começo a ficar familiarizado como as coisas funcionam.

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